quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Caixa de Memórias.




Esses dias - olhei debaixo de minha cama e vi uma caixa de madeira azul, estava empoeirada, cuidadosamente a puxei, passei as mãos por ela tirando aquela teia de pó que até me rendeu alguns espirros. Estava ela trancada com um pequeno cadeado, lembrei que ali guardava toda uma parte de minha infância e juventude em memórias, e eu mal sabia onde estava à chave para libertar tudo aquilo. Depois de algumas horas procurando, finalmente eu encontrei, antes de virar a chave para destrancar a caixa, um misto de sentimentos me tomaram e eu com um suspiro mais forte do que eles - abri a caixa.

Deveras que estava uma bagunça, um monte de papeis, fotos, cartões, bilhetes e até documentos velhos, como a primeira carteirinha do colégio, neste instante você se deve perguntar qual a finalidade de guardar todo esse monte de coisa velha. Eis que penso que nossa memória guarda muitas outras coisas que são consideradas desnecessárias, então por que não guardar papeis, fotos e bilhetes velhos, afinal como diz o clichê Recordar é viver e não sou eu que penso assim, Super Interessante ( vale a pena conferir a matéria).

Minuciosamente peguei cada papel e bilhete, abri um a um, atenciosamente os li, fiquei diante de fatos percebidos eu diria, pedidos de desculpas, desafetos, grandes amigos que não são mais hoje, affair mal resolvidos e quantas daquelas que escrevi, mas não mandei.

O que me fez perceber que eu sempre estive além dos fatos, minhas escritas pareciam adivinhar o que iria acontecer, mas como nunca fui uma pessoa de agir precipitadamente, deixei os fatos decorrerem em tempo natural. È curioso e ao menos tempo engraçado quando você lê coisas que escreveu há muito tempo atrás, tempos diferente, pensamentos diferentes ou até mesmo aquela velha falta de maturidade. Uma enxurrada de acontecimentos passa diante dos seus olhos, peças se encaixam, fantasmas reaparecem, a vida, destino, a crença em sua intuição que sempre grita alto em seu ouvidos e você parece escutar somente a voz sussurrante que diz para fazer ao contrario, seja lá o que for, sempre nos tornamos marionetes das circunstâncias. Fato é que sabemos e compactuamos com isso.

A pergunta ao ler tantas coisas é apenas uma “Onde foi que eu errei?” E o pior de tudo é que sabemos exatamente a resposta. Quer saber, eu em meios a papeis, fotos, fatos, bilhetes e cartões, faria tudo novamente, deixaria que a intuição não me conduzisse, choraria, exatamente igual ao que eu fiz, isso é a nossa essência, faz parte de nós. Portanto ao chegar em casa, pegue aquele baú, aquela caixa, os bilhetes, as fotos e recorde, liberte-se das amarras dessa sociedade cruel que te julga, não tenha vergonha do que já fez, do que chorou, do que do gozou. Senão você será apenas mais um vagante pelo mundo afora, sem nenhuma boa historia, um bom amor platônico, uma boa memória para compartilhar, a solidão não consiste em apenas ser rodeado de pessoas, familiares e amores. A solidão consiste também em falta de essência.


Deixo um trecho de um poema de Drummond que achei em minhas memórias:


“Tenho saudade de mim mesmo,

saudade sob aparência de remorso,

de tanto que não fui, a sós, a esmo,

e de minha alta ausência em meu redor.

Tenho horror, tenho pena de mim mesmo

E tenho muitos outros sentimentos

Violentos. Mas se esquivam no inventário,

E meu amor é triste como é vário,

E sendo vário é um só.”

2 comentários:

Safa e Fada disse...

Gostei mesmo!

=)

Tiago Ziviani disse...

interessante seu blog.....gostei!
eu sou o Tiago, do blog
http://cerebelonabrita.blogspot.com
entra lá e dah uma olhada, vlw!1
bju