terça-feira, 27 de abril de 2010

Desfolhar.


Pode ser que eu me arrependa de cada palavra que direi, alias pode não, irei me arrepender com certeza, sei que às vezes pode parecer até banalidades, mas não tenho vocação para compartilhar, acredito em coisas sinceramente compartilhadas, no entanto não fui agraciada com em essa virtude. Faz bem? Não, eu diria. Faz mal? Diria que também não.


Diria na verdade que existe um meio termo neste único e exclusivo caso, por que afinal não creio em meio termo. Nesse caso existe uma balança que pondera o compartilhar e o não compartilhar, por vezes me protege e por vezes quase me sufoca. Quase eu digo, por que desde criança aprendi a prender a respiração por aproximadamente 60 segundos, por isso não sufoco facilmente, na verdade tenho por concepção que somente os fracos é que gostam de compartilhar, confesso que por vezes acho uma concepção absurda, contudo zelo por ela. Certo dia me disseram que a transparência era o segredo de compartilhar, realmente tentei carregar essa transparência para facilitar as coisas, deixo essa transparência para quem tem dom, e nesse caso ainda não possuo.

Sabe quando uma coisa mexe com você? Como não mexia há certo tempo, quando você sente que não é apenas mais uma coisa, sente que não é superficial, não cria expectativa, porem é diferente. Não deposito fichas em quase nada e em quase ninguém, dizem que sou pessimista, me contraponho dizendo que sou realista. Talvez essa seja minha maior vulnerabilidade, esperar que as pessoas depositem fichas em mim e mesmo assim corresponder poucas delas. A simplicidade me mata, me joga ao chão, me tira o sono, me tira a razão, não gosto do simples, não sei lidar simplesmente com isso. Erro, peco, na maior parte das vezes por querer ter a arte de simplificar as circunstancia, fui acostumada com a complexidade, com a conquista, com o oportunismo.


Por essas e outras que até mesmo para falar algo, preciso de uma construção de enredo inteira, para mim se não for paradoxal e transitório não tem a mínima graça. Voltando a dissertação anterior, pode ser que por um momento de vulnerabilidade, de vazio, as coisas que parecer ser sem importância preenchem espaços, isso seria até hipócrita dizer, talvez para mascarar o que algo realmente acontece.


Sim, se foi, e mesmo contudo turbulento, deixou marcado, mas marcas também são apagadas não só com o tempo, como também quando se esfrega sua superfície ou maquia para ficar cada vez mais fraca, digo que quando se foi, essa marca já estava bem clara, já havia passado, desgostar na minha essência é bem mais fácil que gostar. Na minha essência difícil é se dedicar verdadeiramente a algo, o que no meu ver eu fiz na proporção que achava melhor, suficiente? Talvez não, deficiente? Na vida a gente aprende errando.


Quando nada e nem ninguém mais fazia uma folha sequer cair daquela histórica arvore no meio do campo, com toda sua imponência, que sobreviveu a outonos sem desfolhar e a primaveras timidamente a florescer, eis que surge uma leve brisa, aquela na qual parece transcender uma tempestade, geralmente e teoricamente tempestades quando surgem inicialmente são rápidas e pouco devastadoras, no entanto quando surge de uma leve brisa cortante, não há arvore por mais bem afixada em suas raízes que resista. E foi assim que surgiu como uma leve brisa, que foi envolvendo, e que mesmo sem gerar uma tempestade desfolhou aquela tão notável arvore. Como há muito tempo os galhos não balançavam, parecia sentir algo que não era superficial, não era intenso tão quanto foi, quando aquele que foi se foi. Todavia poderia tornar-se, o vento parecia abraçar a arvore a envolvia de tal forma, que ela altiva resistia mesmo não querendo. E ela simplesmente derrubou uma boa parte de suas folhas no chão, folhas velhas, folhas que já eram para ter caído, e que ninguém até o presente momento havia feito.


Se existe épocas de desfolhar e de florescer são por que as arvores necessitam de renovação, mesmo assim tende a persistir e a resistir contra os fatores da natureza.


E a dona desta arvore? Sou EU que vos escrevo esse texto, confesso que fiquei enternecida com as folhas no chão, fui as recolher e até senti a esperança que mais pudesse cair, contudo assim que toquei nas folhas eles se desfizeram, percebi que por mais que os galhos e a arvore toda estava balançando, aquilo não iria durar muito mais tempo, e eu como uma jardineira com experiência estava certa, não cabia a mim adubar a terra para que as folhas ficassem fortes, cabia ao vento que balançou a arvore, trazer com ele o adubo necessário para florescer.


O que não foi feito, ao invés disso o vento trouxe uma espécie de poeira que parecia novamente impregnar nas folhas,quase mesma poeira de quando aquele que foi deixou. A arvore ficou abalada, eu como jardineira tentei por mais de uma vez, não me contentava com aquilo, precisa tirar a prova real de que aquilo realmente não funcionaria, peguei sacos de adubo e coloquei em cada parte da raiz. Em vão não era aquilo que realmente aquela arvore valente precisava, ela precisava de uma primavera sem timidez, mas para isso precisava desfolhar com um forte vento para se renovar. E assim a arvore continua em seu campo, não esperando por outra brisa, nem por outonos, nem por primaveras, esperando que naturalmente suas folhas e suas flores se renovem. Você brisa não foi suficiente, assim como não foi, aquele que se foi.


Parafraseando um pouco, eu jardineira diria que:




“Leve, leve, muito leve,


Um vento muito leve passa,


E vai-se, sempre muito leve.


E eu não sei o que penso


Nem procuro sabê-lo.”


Por fim,

Garotos não resistem aos seus mistérios
Garotos nunca dizem não
Garotos como eu, sempre tão espertos
Perto de uma mulher, São só garotos
Perto de uma mulher, São só garotos.