
O documentário “Surplus” lançado na Suécia em 2003 sob a direção de Erik Gandini, apresenta em seus 52 minutos de duração, a posição da sociedade contemporânea tomada pelo consumismo desenfreado, onde 1/5 da população mundial esgota 4/5 dos recursos do planeta terra e produz 86% de todo desperdício, e torna esse nível de consumo totalmente insustentável.
No curta-metragem, John Zerzan, um anarquista norte-americano enquanto filósofo e escritor, é considerado um dos expoentes do anarco-primitivismo, pois é citado como “a mente por trás do movimento de danos à propriedade”. Violência, segundo o ideólogo ex-marxista, é permanecer em casa, inerte, alheio aos acontecimentos a sua volta. Pode parecer estranho num primeiro momento, mas não fazer nada para mudar o mundo não é mais violento do que destruir uma propriedade privada? Uma vez que o mesmo acredita que para salvar o mundo é necessário o retorno à idade da pedra e, a maneira de alcançar o objetivo se dá com a destruição da indústria. Será que Zerzan não seria uma espécie de personagem perfeita nas campanhas do Greenpeace? Contraditório, não?
Fixa-se a idéia de que as sociedades desenvolvidas não só devem buscar seu próprio crescimento e, sim, difundi-lo entre todos os países de forma justa e sustentável.
O filme segue apontando o fato da degradação ambiental gerada através das sociedades de consumo e, dentro dessa realidade, é notória a contaminação através de dióxido de carbono e gases nocivos lançados em nossa atmosfera constantemente em busca do desodorante aerosol perfeito, ou até mesmo quando um navio cargueiro despeja todo o petróleo em alto mar dizimando a vida marítima e, por que não mencionar o temido aquecimento global que surge com toda sua força desestruturando toda a natureza?
Contudo, a natureza é apenas um detalhe para George W. Bush, que prega com toda sua devoção o escudo contra o terrorismo que amedronta os cidadãos estadunidenses, gerando impacto na economia consumista americana.
Focando em outra configuração de sociedade, nos deparamos com o comandante chefe da nação cubana, Fidel Castro, com a bandeira do socialismo, já que seu país (sim, praticamente o mestre do jogo WAR), não promove práticas consumistas, nem realiza publicidades comerciais.
Em Cuba, os habitantes possuem uma cota de acordo com o sistema de racionamento que proporciona apenas o suprimento das necessidades básicas, fazendo da nação, a mais democrática e, a que mais coopera para que o planeta não seja aniquilado. Um exagero socialista ideológico e político.
Porém, essa não é a forma de vida ideal, fazendo referência a Tânia, uma jovem cubana que presta seu depoimento ao documentário, relatando sua viagem à Europa e a imensa vontade de Big Mac, supermercados com variedades de alimentos, artigos esportivos e, como sua pequena jornada transformou-se em um paraíso, já que a jovem estava cansada de possuir em seu cardápio nativo “feijão e arroz”, comparados à vida de um jovem europeu e seus 19 anos, com algum milhão ocupando sua poupança, mas não seu objetivo de vida. São as conseqüências de um mundo onde tudo pode ser comprado, até bonecas “de amor” para abastecer as relações pessoais.
O sistema atual impõe a idealização de felicidade em aliança com o consumo e tudo que ele proporciona.
Praticando alusão à Revolução Industrial possuímos presentemente nossa revolução tecnológica, que contribuía para a libertação o homem, diminuindo seu trabalho. Mas o que vemos é que agora somos mais escravizados, pelo celular, pelo computador, um meio de sociabilização, para nos tornar mais unidos em busca de ideais, descobertas importantes para o mundo e para a raça humana, troca incessante de informações e conhecimento, uma máquina que comanda nossa vida e não nos traz a possibilidade de abandonarmos o trabalho e, sim, vivermos em função dele. Somos trabalhadores 24 horas por dia. Alguma semelhança com os operários e sua jornada de trabalho, que variava entre 12 e 16 horas e que, mais tarde chegou numa totalidade de 18 horas? Ocorrerá novamente um êxodo rural e reurbanização acelerada como na Revolução Francesa?
Zerzan surge novamente exemplificando-se nos “profetas do passado”, como os franceses Joseph de Maistre e Louis Bonald e o inglês Edmund Burke, que censuraram a modernidade, garantindo ser o produto do homem alienado, carente de virtudes morais e espirituais.
Enfim, “Surplus” nos submete a uma mudança de paradigma, onde uma vida simples é satisfatória aos desejos humanos e, preservar o presente é a salvação.